
Sempre considerei amizade sinônimo de alegria, compaixão, união, afeto entre tantas outras coisas. Sempre tive muita sorte, Clara e Mariana sempre estiveram comigo. Enfim, elas eram tudo que eu precisava para ser feliz.
Sempre estudamos juntas, nossas mães eram amigas desde sempre, a casa de uma delas era minha casa e vice versa. Éramos cúmplices de nossos acertos e erros!
Era 9 de dezembro, uma tarde chuvosa, estávamos na chácara de minha avó, que não estava lá, só viria uma semana mais tarde. A TV era nossa única fonte de sobrevivência, celular não tinha sinal e a internet não pegava. Era o fim do mundo – fato-. Mas mesmo com esse tédio, estava legal, era estranho o modo da qual o silencio delas me dava um conforto. Só de saber que elas existiam e que naquele momento estavam do meu lado, estava tudo bem. Decidimos relembrar os velhos momentos, de quando estávamos na terceira serie, onde brincávamos de “gato mia”, apagamos todas as luzes e começamos a girar Mari, depois Clarinha e eu fomos nos esconder; Clara foi pra estante perto do sótão. Enquanto eu fui para trás do sofá. Logo Mari me encontrou, falei para Clarinha vir para sala de novo. Ela não veio, vasculhamos detalhadamente cada parte da casa. Clara só podia estar de brincadeira, ela adora nos dar susto. Gritei pela sala, “Clara, chega, a Mari já me achou, vem pra cá, serio!” ela não apareceu, pensando na hipótese, de ser uma brincadeira, sentamos e começamos a assistir TV.
Passaram-se uma hora e meia, e nada de Clara aparecer. Resolvemos sair em sua procura; entrei no sótão, olhei em TODOS os lugares. A chuva começou a ficar mais forte do que já estava.
Mari olha para mim com os olhos cheios de lagrimas, tento acalmá-la, era impossível, estava muito preocupada também.
Mari disse que ia olhar nos quartos, após alguns poucos minutos, escuto um barulho no andar de cima, onde estavam os quartos, sinto um cheiro de fumaça; corro em desespero para ver o que aconteceu. Um raio acabara de cair em nosso telhado. Procuro loucamente Mariana, ao perceber que um quarto já estava em puras chamas resolvo descer as escadas, mas quando olho para o lado; meu coração pulsa mais forte, vejo mariana em chamas. Já falecida. As minhas lágrimas são incontroláveis. Esqueço o telefone lá em cima, e ao chegar ao meu quarto, vejo Clara, jogada pela janela, faltando pouco para cair. Agora já era inútil tentar socorrê-la, suas pernas já estavam roxas e seus braços pegavam fogo. Liguei apressadamente para o Corpo de Bombeiros da cidade. Não poderia estar acontecendo aquilo. Escuto barulho de gás. Olho para a cozinha e vejo o botijão vazando. Minha única saída era correr. Em poucos segundos a casa explode e os bombeiros chegam.
Jogo-me no chão, sofrendo de dor como se algo tivesse acontecido comigo; mas não, eu estava bem, meu sofrimento eram aquelas lembranças, aquelas imagens, Mari pegando fogo, e Clara... Não consigo comentar.
Deveria ter feito por honra, e ficar lá, dentro da casa. Morrer por amor, um amor que nunca encontrei e nunca vou encontrar em ninguém. Talvez agora, poderia estar ao lado delas; num paraíso em que muitos acreditam.
Estou doente. Doente por dentro, uma sensação estranha me mata. Sensação de culpa.
Todos em minha volta se desculpam pelo o que aconteceu. Desculpas pra que? Elas não farão Clara e Mariana voltar. Que vontade de sair e gritar “EU QUERO VIVER”, mas sem elas, não é possível.
Onde estão vocês agora? Além de aqui, dentro de mim!
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